Semana da Mulher: Pesquisadora da UFRA apoiada pela Fapespa desenvolve tecnologias sociais para comunidades tradicionais no estado
Atualmente, após diversas ações, pela luta de direitos e resistência de mulheres na sociedade, a participação feminina vem sendo devidamente ocupada no âmbito da ciência e pesquisa. De acordo com um relatório originado pela Organização das Nações Unidas para a Educação (UNESCO), no Brasil, as mulheres representam 49% de participação na ciência. Esse número é o mais promissor no ranking mundial.
No estado do Pará, a Fapespa é a principal fomentadora de estudos e pesquisas, e tem o compromisso na promoção da inclusão de mulheres na ciência, pesquisa e inovação. A premissa visa consolidar mais pesquisadoras atuantes no estado e estimular o ingresso de novas jovens pesquisadoras, por meio de editais de fomento.
Nesse contexto, umas das pesquisas que tiveram alta performance e evidência no estado foram coordenadas por mulheres apoiadas pela Fapespa. Como o caso da pesquisadora Vania Neu, que produziu novos conhecimentos e iniciativas de tecnologias sociais, voltadas para a promoção do bem-estar de ribeirinhos no Pará.
Nascida no Rio Grande do Sul, a pesquisadora possui um currículo extenso. Vania é graduada em ciências biológicas, pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFGS), possui mestrado em ecologia na Universidade de São Paulo (USP) e doutorado em Biogeoquímica. Logo no início de sua carreira, produziu trabalhos voluntários, um deles em Manaus, sobre o bioma amazônico e outros referentes ao levantamento ambiental para remarcações de terras indígenas no Rio Grande do Sul.
No Pará, em 2009, entrou como professora e pesquisadora na UFRA, onde produziu diversos projetos mensurando a biogeoquímica florestal e aquática, na baía do Guajará, e os sistemas de água de chuva, na região.
Tecnologias Sociais e Sustentáveis
No último ano, 2022, a Fapespa promoveu a finalização do projeto “Segurança Hídrica e Saneamento na Região Insular de Belém”, coordenado por Vania, que teve como base uma das maiores dificuldades das populações ribeirinhas: o acesso à potabilidade da água, desenvolvendo uma tecnologia social que já vem garantindo o recurso de maneira totalmente potável a partir da captação da água da chuva, na Ilha das onças, em Barcarena.
A iniciativa teve início em 2012, quando a professora iniciou uma expedição de pesquisa pelos interiores do estado. Durante as visitas a campo, Vania percebeu que diversas comunidades ribeirinhas sofriam por conta de um problema em comum, a dificuldade do acesso à água de qualidade, tendo em vista que algumas bacias carregam resíduos poluentes de municípios populosos, ocasionando sérios problemas de saúde à população, como no caso da Ilha das onças. “Sempre percebíamos as queixas de pessoas doentes, pessoas que deixavam de trabalhar justamente pela fragilidade sanitária, por não ter água potável. Então, não tínhamos como fazer os estudos nesses lugares, se as pessoas não tiverem água para beber”, explica Vania.
Diante dessa problemática, o projeto desenvolveu um Sistema de Captação e Armazenamento de Água da Chuva (SCAC), uma tecnologia social de baixo custo e passível de ser reaplicada. Ele é composto por canos de PVC, para fazer o percurso de armazenamento; filtros autolimpantes, para o tratamento e limpeza da água; e caixa d’água, como cisterna.
O SCAC é um sistema ecologicamente sustentável, de aplicação difusa, socialmente justo, economicamente viável e democrático, que já beneficiou 15 famílias na comunidade de Furo Grande, na Ilha das Onças, próximo a Belém.
Banheiros ecológicos
Ainda pensando nas comunidades ribeirinhas, a pesquisadora desenvolveu um Banheiro Ecológico Ribeirinho (BER). Trata-se de um banheiro seco, no qual fezes e urina dos usuários são recolhidas em uma bombona plástica, isolando-as do contato com o solo, água e animais. E, após o uso, é depositado sobre os dejetos um substrato seco (serragem e cal virgem), em quantidade suficiente para cobrir a superfície do material fisiológico, para auxiliar a compostagem.
A iniciativa propõe a diminuição da contaminação de solos e águas nas regiões insulares, o que, posteriormente, impacta na melhoria da saúde das pessoas, pela redução esperada na incidência de doenças de veiculação hídrica, como, por exemplo, diarreia, febre tifoide, poliomielite, verminoses e outros.
Essas duas ações desenvolvidas por Vania Neu já estão implementadas na comunidade de Furo Grande, em Barcarena.
Além disso, atualmente, Vania desenvolveu um outro projeto, de realização do PCT Guamá, de cunho ecológico no estuário do Rio Pará, que estuda a influência dos processos hidrodinâmicos e químicos no sistema estuarino do estado. Este novo estudo tem por objetivo geral elucidar as dimensões dos fluxos de água, carbono, nitrogênio e sedimentos. Contudo, avaliar a influência dos padrões hidrodinâmicos, biogeoquímicos, e a exportação do carbono e nitrogênio nas frações particuladas, dissolvidas e gasosas do estuário do Rio Pará.
Por fim, é notório o quanto a presença feminina na ciência vem trazendo inúmeras soluções para a sociedade. Para Vania Neu, o empoderamento de mais mulheres na produção é primordial para uma sociedade mais justa. “Nós, mulheres, possuímos um olhar multidimensional para muitas coisas. Desde muito novas, já somos educadas para isso. Acredito que alguns problemas básicos ainda persistem hoje pela falta de mulheres em diversos setores.” E complementa: “a sensibilidade feminina é essencial para uma sociedade mais justa e igualitária”, finaliza Vania.